segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Pressupostos normativos da modernidade

Na 4 semana o curso aborodu os pressupostos normativos da modernidade, tendo por base a obra de
Max Weber - Ética protestante

Link para o Livro: http://www.usp.br/cje/anexos/pierre/WEBERMaxAeticaProtestanteeoEspiritodoCapitalismo(CompanhiadasLetras).pdf

Resumo da Obra:

A ética Protestante e o Espírito do Capitalismo

Max Weber, em 1917.
É muito comum encontrarmos na net resumos e resenhas da obra “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”, de Max Weber, mas tentativas de explicações do porque da metodologia utilizada na obra, a partir da visão da teoria weberiana, não é tão comum. Hoje busquei encontar algo nessa direção mas não encontrei nada na net, então, me imputei a função de iniciar aqui uma discussão nesse sentido. Peço que, os que dominam esse tema ou que já tenham lido a referida obra me ajudem (nos comentários) nessa empreitada.
Weber ao se debruçar sobre o objeto de estudo (a ética protestante) buscou compreender como essaética propiciou condições para que o capitalismo (o seu espírito) viesse a se desenvolver em países protestantes. Essa foi a maior “sacada” de Weber!
Ao ler as os resumos e resenhas encontradas na Net parece que ao invés de ler a obra (mergulhar no pensamento de Weber) ficaram buscando, ou catando, as características dos grupos religiosos contidos no livro. Parece que Weber, erradamente de acordo com essas resenhas e resumos que vagam pela net, estava fazendo um trabalho de história das seitas protestantes, quando na verdade ele recorreu a tais seitas para buscar identificar quais as possíveis características que levaram seus seguidores a desenvolver uma conduta propícia ao desenvolvimento econômico (esse é o ponto principal da obra).
Livro: A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo
Lembramos que Weber tinha como objeto de estudo a “Ação Social” – Ação Social é qualquer ação que o indivíduo faz orientando-se pela ação de outros. Vejamos o exemplo do eleitor: ele define seu voto orientando-se pela ação dos demais eleitores. Ou seja, temos a ação de um indivíduo, mas essa ação só é compreensível se percebemos que a escolha feita por ele tem como referência o conjunto dos demais eleitores. Weber dirá que toda vez que se estabelecer uma relação significativa, isto é, algum tipo de sentido entre várias ações sociais, tem-se, então, relações sociais. Só existe ação social quando o indivíduo tenta estabelecer algum tipo de comunicação, a partir de suas ações, com os demais.
Ao estudar a Ética Protestante ele buscava identificar os sentidos (porquês) das ações dos protestantes e de que forma isso os levavam a trabalhar mais, a não se aparentar vagabundos ou ociosos, e conseqüentemente a desenvolver-se economicamente – era a ação social dos protestantes que, segundo ele, deu condições para que países protestantes fossem mais desenvolvidos.
Weber definia as ações sociais, como:
  • Ação social tradicional;
  • Ação social afetiva;
  • Ação social racional movida por fins;
  • Ação social movidas por valores.
 No caso da obra em questão, ele buscou analisar as ações sociais racionais movidas por fins e valores (ou seja, quais os sentidos das ações [a ética] dos protestantes? Quais os valores que os conduziam a tais ações? Quais eram as finalidades de tais ações? Acredito que partindo da primícia da racionalidade dotada de sentido teremos uma compreensão maior da obra de Weber.

Resenha da Obra:
Em “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo’, Weber discorre sobre a relevância da reforma protestante para a formação do capitalismo moderno, de modo que relaciona as doutrinas religiosas de crença protestante, para demonstrar o surgimento de um modus operandi de relações sociais, que favorece e caracteriza a produção de excedentes, gerando o acúmulo de capital.

Há de se dizer, então, que o mundo outrora dominado pela religião católica, era também concebido a partir da cultura por ela promulgada. Isso quer dizer que o modo de vida pregado no catolicismo, era propagado para além dos limites da Igreja, perpassando a vida dos sujeitos. Entretanto, o catolicismo condenava a usura, e pregava a salvação das almas através da confissão, das indulgências e da presença aos cultos. Desta forma, o católico enxergava o trabalho como modo de sustentar-se, mas não via prescrição em também divertir-se, buscando modos de lazer nos quais empenhava seu dinheiro, e produzindo apenas para seu usufruto. Menos temerário ao pecado que o protestante, e impregnado pela proibição da usura, o católico pensava que pedir perdão a seu Deus seria suficiente para elevar-se ao “reino dos céus”. Assim, seguindo esta cultura religiosa, a acumulação de bens não encontrou caminhos amplos, e permaneceu adormecida.

Contudo, com o advento do protestantismo, a doutrina – e portanto, a cultura – católica modificou-se, e a salvação passou a ser para alguns, não mais passível de ser conquistada, mas sim uma providência divina, onde o trabalho era meio crucial para glorificar-se. Para o protestante, o trabalho enobrece o homem, o dignifica diante de Deus, pois é parte de uma rotina que dá às costas ao pecado. Durante o período em que trabalha, o indivíduo não encontra tempo de contrariar as regras divinas: não pratica excessos, não cede à luxúria, não se dá a preguiça: não há como fugir das finalidades celestiais. E, complementando toda a doutrina protestante, ainda é crucial pontuar que nesta religião não há espaço para sociabilidade mundana, pois todo o prazer que se põe a parte da subserviência a Deus, fora considerado errado e abominável. Assim, restava a quem acreditava nestas premissas, o trabalho e a acumulação, já que as horas estendidas na produção excediam as necessidades destes religiosos, gerando o lucro.

Portanto, quando se fala em uma concepção tradicional de trabalho, trata-se da concepção católica, que não acumulava e pensava o trabalho como meio de garantir subsistência. Já a concepção que vê o trabalho como fim absoluto, é a protestante, que enxerga no emprego de esforços produtivos a finalidade da própria existência humana, interligada com os propósitos providenciais de Deus.

Esta mudança no comportamento social, além do choque de culturas exposto nos parágrafos acima, suscita uma abrupta mudança no cenário econômico. Isso decorre do seguinte ciclo: O católico trabalha para viver, o protestante vive para trabalhar. O protestante gera excedente, e o acumula, investindo-o em cadernetas de poupança, gerando lucro. A finalidade protestante é salvar-se, e se o trabalho é salvador, empregar outros auxilia na salvação alheia. Logo, o protestante é dono dos meios de produção, detém os funcionários e acumula cada dia mais excedentes, gerando mais capital. E assim, a gênese do capitalismo moderno é concebida.

Conclui-se, portanto, que a cultura – segundo Weber um modo de ser que detém as práticas –  ao ser modificada, gera novos costumes, um comportamento inusitado, que embora não tivesse como objetivo estabelecer uma nova ordem econômica, e sim moral, passa a sustentar a essência do sistema.

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